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Inovação e amor movem o trabalho da educadora Maribel Dal Bem

21/05/2018
Cultura
Educadora foi homenageada na Feira do Livro de Santa Maria

​​Entre os dias 28/4 e 13/5 ocorreu a Feira do Livro de Santa Maria. Nessa edição do evento, Maribel da Costa Dal Bem, foi a professora homenageada. Maribel é formada em Letras – Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e atua no magistério desde 1992, em instituições públicas e privadas. Atualmente, é educadora da área de Língua Portuguesa na Escola Estadual de Ensino Médio Cilon Rosa e no Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e de Cultura Popular, Julieta Balestro, no Presídio Regional de Santa Maria. 

Além de desenvolver projetos diferenciados, no decorrer dessa trajetória, Maribel também publicou diferentes obras literárias junto com a comunidade educativa na qual atuava. Por ser uma referência de dedicação e inovação nesse cenário da educação, e também pelos vínculos que temos com a educadora – seu filho Gabriel Da Costa Dal Bem é estudante do 9º ano do Colégio, realizamos uma entrevista com Maribel Dal Bem, discutindo sobre sua trajetória, a importância da leitura e os desafios da educação hoje. Confira a seguir:

Qual o sentimento de ter sido reconhecida como professora homenageada da Feira do Livro de Santa Maria, edição 2018?

​Maribel - Para mim, a Feira do Livro de Santa Maria é o maior evento cultural que nós temos na cidade. Quando fui comunicada que seria a professora homenageada, a minha reação foi de surpresa. Quando percebi o carinho com o qual eu estava sendo convidada, pelo trabalho que nós desenvolvemos há muitos anos, eu fiquei muito feliz e acredito que o título não é apenas meu, é de toda comunidade escolar. Eu costumo dizer isso, porque sozinho ninguém faz nada, nós somos uma equipe. Eu partilho muito esse título com meus estudantes, porque se nós não temos estudantes que aceitam a realização de uma aprendizagem diferenciada, de projetos dentro da sala de aula, fica muito mais difícil. E isso eu tenho encontrado ao longo dos anos. Nós sentimos o quanto os jovens necessitam de um olhar diferenciado do educador, de um olhar que enxergue aquilo que eles gostam. E que transformam isso que eles gostam, em meios de aprendizagem. Nesse sentido, gosto muito da proposta pedagógica do Colégio Marista Santa Maria, onde meu filho estuda. Eu vejo o Colégio como uma instituição que se preocupa com dois aspectos que eu considero como fundamentais na educação: o conhecimento e a humanização. Uma escola sensível. Os pais sentem-se confiantes em uma escola que trabalha assim.

No contexto desses 27 anos que constituem sua trajetória profissional na área da educação básica, o que você destacaria como diferenciais desse trabalho no magistério?

​Maribel - Sempre busquei metodologias diferenciadas. Acredito que a escola deve, basicamente, se preocupar com o conhecimento, mas também buscar metodologias que trabalhem esse conhecimento através de atividades lúdicas, de atividades criativas, onde o estudante não apenas copie, decore e demonstre o que aprendeu na prova, mas que ele seja sujeito do processo de aprendizagem. E a Educomunicação, um campo do conhecimento que promove estudos e práticas entre as áreas da Comunicação e Educação, é muito importante nesse sentido, porque nos propicia uma diversidade de atividades, que ensinam e que ao mesmo tempo, comunicam. Para mim, o estudante precisa ter voz e vez na sala de aula. Hoje se nós queremos realmente ter um cidadão bom, um cidadão honesto, que seja um cidadão que contribua com o mundo que ele vive, nós precisamos dar essa voz a ele na escola. Desde 2009 nós trabalhamos com projetos de aprendizagem. Esses projetos não são alheios a nossa aula. Estão dentro da nossa proposta de ensino-aprendizagem. Então, por exemplo, se eu estou trabalhando poesia, eu vou trabalhar verbo através da poesia. Acredito que o incentivo à leitura seja o nosso recurso mais importante, e é o que faz com que nossos projetos deem certo. Nós sempre aliamos leitura e escrita em nossos projetos.

O que você realçaria como principais desafios do educador hoje?

​Maribel - Eu creio muito assim, que o educador precisa ter certeza daquilo que ele vai fazer, ele precisa amar aquilo que ele vai propor. Quando acredito na minha proposta, ao trabalhá-la com os estudantes, será fácil, eles aceitarão, eles veem que acredito naquilo que eu faço. Tenho um desafio que sempre faço no início do ano com os estudantes. Pergunto: o que vocês vão fazer de positivo para dar orgulho às famílias de vocês? O que eu sei fazer que vai orgulhar a minha família? Alguns escrevem muito bem, outros leem muito bem, outros declamam poesia. Acredito que o nosso estudante, ele precisa enxergar o que tem de positivo, e mostrar isso à família. Se a escola auxiliar nessa identificação, as famílias vêm pra escola, promove-se o ecossistema comunicativo. Tenho experiências muito bonitas. Na Feira do Livro, já tive vários livros onde as famílias escreveram junto, sobre o mesmo tema. Temos um livro  “Sonhos de ontem, sonhos de hoje” (2013), onde os nossos adolescentes contaram em aula, quais os sonhos deles de hoje, e os pais contaram quais os sonhos deles quando adolescentes. Então eu acredito muito nisso. Da família vir pra escola. Destaco também que o educador sempre tem que ter em mente que o estudante, merece o melhor que ele pode fazer. E pensar que se nós conseguirmos transformar a vida de um ou de alguns sujeitos, como ser humano e como aprendiz, já estamos fazendo a diferença na sociedade. Penso, por exemplo, na escola prisional, onde eu trabalho, é muito gratificante pra nós, enquanto educadores, saber que quando o sujeito sai de lá, vai ter outra perspectiva, outras possibilidades de arrumar um emprego. Acho que o educador de escola prisional tem que ter essa visão. Eu estou lá pra tentar transformar alguma coisa. Talvez eu consiga, talvez não. E isso a gente tem que perceber que beneficia a nós como sociedade. Quanto mais eu ajudar a fazer de um apenado alguém inserido na sociedade de uma forma realmente humana, realmente positiva, isso será melhor pra nós enquanto sociedade.​