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Projetos

Libras

​​​​​Mais de 9 milhões de brasileiros declararam ao IBGE, no Censo Demográfico realizado em 2010, ter deficiência auditiva. Desses, 2,1 milhões (21%) afirmaram ter deficiência auditiva severa. Em 2015, a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) informou que apenas 80 mil pessoas com algum nível de surdez trabalhavam com carteira assinada. A baixa contratação de surdos e deficientes auditivos tem raiz no acesso à educação básica e superior.

As pessoas que nascem surdas no Brasil têm como primeira língua a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e como segunda língua o Português. Segundo informações do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência Física (Conade), as maiores dificuldades de inclusão dos deficientes no mercado de trabalho são o preconceito, a adaptação de ambientes e a comunicação com os colegas.

Desde fevereiro de 2018, a Biblioteca do Colégio Marista Santa Maria conta com uma educadora surda que atua em bibliotecas há mais de nove anos. Quando chegou à escola, ela demonstrava grande vontade de ensinar Libras às crianças, que também tinham interesse em aprender. Nascia, então, o projeto Experiência de mediação de leitura em Libras: aproximando pelos sinais, que consiste na leitura em voz alta da história, concomitantemente à história narrada em Libras. Consideramos relevante para a instituição, pela prática da inclusão no espaço escolar e pela valorização do profissional de inclusão no seu ambiente de trabalho, para os estudantes, que têm a chance de entrar em contato com uma nova língua por meio da literatura, e para a educadora, que vê sua língua valorizada e despertando o interesse dos alunos.

Os objetivos do projeto são realizar uma mediação de leitura utilizando a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais, contribuir para a formação do leitor, apresentar a Língua Brasileira de Sinais aos estudantes e favorecer a melhora da comunicação entre a educadora surda, estudantes e professores.

A atividade teve início em 2018 com turmas de 2º, 3º e 4º anos do Ensino Fundamental. Para o 2º ano e para o 3º ano, a história contada foi O caracol e a tartaruga são amigos, de Stephen Michael King, escolhida em função do nível de maturidade leitora das turmas e das repetições de sinais, o que facilita a sua memorização. Em 2019, para as turmas de 4º ano, a história escolhida foi Pequena coisa gigantesca, de Beatrice Alemagna, que exige uma maturidade leitora um pouco mais apurada e apresenta uma complexidade maior de sinais. Também em 2019, foi inserida no projeto a história One Love, escrita por Cedella Marley, que, além da Língua de Sinais, foi a primeira a contar também com música.

Ao longo da mediação de ambas as histórias, leitura e sinais foram alinhados, em sintonia, a fim de que os estudantes pudessem compreender que a palavra lida equivalia àquele sinal e vice-versa. Eles eram livres para tentar repetir os sinais ao longo da história, mas eram convidados a fazê-lo na segunda vez em que a história era contada, para que pudessem aproveitar o enredo e, ao mesmo tempo, aprender uma nova língua.

Após o desenvolvimento do projeto, foi possível perceber certa mudança de comportamento na maioria dos estudantes com relação à Língua Brasileira de Sinais, pois passaram a se interessar por saber mais sinais. Durante as contações, os estudantes demonstraram uma postura respeitosa e de grande interesse pelos sinais das histórias contadas e todos procuravam reproduzir, da forma como conseguiam, os sinais ensinados pela educadora.

O comportamento dos alunos ao chegar ao espaço da biblioteca também mudou: eles passaram a cumprimentar a educadora em Libras, sentindo-se muito mais à vontade para fazer uso dos sinais para cumprimentos e agradecimentos. A atividade também contribuiu para a valorização e a efetiva inclusão da educadora surda no ambiente da escola, já que a contemplou e valorizou sua língua, além de contribuir para melhorar a sua comunicação com os estudantes e os professores frequentadores da biblioteca.

​A realização do projeto possibilitou, além de uma atividade prazerosa relacionada à leitura, a conscientização sobre a importância da inclusão. A biblioteca e a escola, preocupadas com a formação de leitores e sempre pensando em práticas diferenciadas para sensibilizar os estudantes para a importância da leitura e a formação humana, pretende continuar realizando projetos que envolvam diversas línguas e linguagens, visando explorar as inúmeras possibilidades que o trabalho com a leitura proporciona. Já existem novos planejamentos de mediação de leitura envolvendo a Língua Brasileira de Sinais, música e poesia para as próximas edições.