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A arte de escrever histórias

25/07/2020
Cultura
No Dia Nacional do Escritor, confira entrevista com a escritora Nikelen Witter, que traz importantes dicas sobre a área.

​Os projetos de incentivo à leitura e à escrita integram nossa proposta pedagógica da Educação Infantil ao Ensino Médio. Nessa abordagem educativa acreditamos na importância de práticas de formação do leitor que envolvam as crianças e os jovens no decorrer de todo processo escolar. Afinal, a leitura é base para o desenvolvimento integral do indivíduo, da sua consciência crítica, criatividade, autonomia e conhecimento. Como exemplo, podemos citar o projeto Livro de Pano vivenciado pelos estudantes do Nível 2 da Educação Infantil e também o Leitores e Escritores, que envolve os jovens do 8º ano EF, projeto destaque no Prêmio RBS de Educação em 2018.

Em diálogo com essa perspectiva, nos apropriamos de datas como o Dia Nacional do (a) Escritor (a), celebrado no Brasil nesse dia 25 de julho, para aprendermos mais sobre esse universo e compartilharmos experiências e boas práticas que realizamos no nosso Colégio. A data foi instituída em 1960 por um Decreto Governamental, motivado pelo sucesso do 1º Festival do Escritor Brasileiro promovido pela União Brasileira dos Escritores (UBE). 

Por isso, a partir de dúvidas e curiosidades enviadas pelos nossos estudantes, famílias e educadores sobre o tema, entrevistamos a escritora Nikelen Witter que conta a seguir sua história no universo da literatura. Nikelen é professora do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e já publicou três romances. Em 2019, participou da nossa Mostra Cultural e Literária. com oficinas sobre Literatura Fantástica. Além de abordar a sua trajetória, a escritora compartilha dicas para quem deseja ingressar nessa profissão tão encantadora, mas que também, como veremos, exige muito trabalho e leitura. Confira:


Nikelen Witter - Arquivo pessoal.jpg 

 

1) O que lhe motivou a ser escritora? 

​Eu sempre quis ser escritora. Acho que desde antes de me alfabetizar, pois eu tinha um fascínio enorme pelos livros, mais que por qualquer outra coisa. Minha mãe guarda cartas que escrevi com 7 e 9 anos, nas quais eu prometo a ela que um dia eu iria publicar um livro. Com 12 eu escrevia poesia, com 14 escrevi uma pequena novela. Aos 18 comecei a fazer oficinas de escrita criativa. 

Eu cheguei a colocar o sonho de lado quando estava me formando na faculdade e durante o mestrado e logo após. Mas um pouco, talvez, foi por não encontrar o tipo de literatura que eu queria escrever. Eu sempre amei histórias de aventura, que tivessem fantasia, magia, ficção científica. Foi só quando decidi que era isso que eu iria escrever foi que me vi decidindo a entrar no universo da escrita e lutando para ficar nele. 

Comecei a publicar em 2011. Primeiros contos em antologias e depois meu primeiro romance em 2012. Em 2017 publiquei o segundo romance e 2019, publiquei o terceiro. Agora em 2020, publiquei uma coletânea com alguns contos meus que estavam dispersos em diferentes antologias.

2) Quais as dicas que você daria para quem deseja escrever um livro?

​A primeira dica é ler bastante. Se você não curte mergulhar nesse outro universo que é a leitura, viajar por lugares construídos de palavras, é difícil escrever. Imaginar não é difícil, mas a escrita exige porque ela é uma comunicação com outra pessoa, com o seu leitor. Então é preciso buscar palavras, frases, que façam mais do que sentido para você mesmo. Elas precisam construir um mundo inteiro para quem está lendo. E isso nem sempre precisa ser algo enorme, pode ser feito com sutilezas que se traduzem em vírgulas, ideias que você indica, sem explicar tudo. Mas como fazer? Só a leitura permite que a gente aprenda a fazer isso.

"Elas precisam construir um mundo inteir​o para quem está lendo"

Nesse sentido, também existem muitos livros que ensinam e ajudam a escrever. Livros que te ensinam a ler como um escritor. E claro, oficinas com outros escritores que podem ensinar quais caminhos seguir. Em resumo, qualquer outra profissão. Não basta ter inspiração, interesse, talento. Sem estudo, sem se formar para isso, a coisa toda não decola. No Brasil, é muito comum as pessoas acreditarem que a escrita é coisa de inspiração e talento e só isso. Mas, felizmente, acredito que estamos avançando e compreendendo o quanto de trabalho existe por trás de um bom livro.

Para elaborar uma boa história, além do estudo de COMO escrever, existem livros e cursos que nos ensinam de forma organizar nossas ideias: como elaborar personagens, roteiro, construir mundos. Veja, eu tenho já três romances publicados. Estou escrevendo mais dois. E estou fazendo dois cursos nesse momento para me aprimorar. Nunca se está pronto e sempre a gente pode aprender. E aprender é divertido porque acaba facilitando o processo de escrita.

Você pode começar com histórias curtas ou até com fanfics. Eu aprendi muito escrevendo fanfics. Ali eu ia testando as minhas habilidades. Tinha personagens e um mundo pronto, então, eu pude exercitar a narrativa, a velocidade, a forma das cenas, os tipos de cenas. Depois ia me arriscando misturando personagens originais meus, e por fim, deslocando as personagens para cenários totalmente meus ou outros planos de histórias. Eu considero as fanfics um espaço fascinante de aprendizagem.

Hoje em dia, a parte mais difícil para um escritor ou escritora iniciante é publicar. Mas, veja, já temos um movimento de revistas literárias nas quais se pode submeter contos e histórias curtas. E também plataformas como Wattpad, por exemplo.

Eu sou das antigas (risos), então, ainda uso o Word e sempre (SEMPRE) tenho à mão um bloco ou um caderno em que coloco minhas ideias. Faço também muitos quadros mentais. 

Muitos escritores gostam de um aplicativo chamado Scrinever, mas eu não me adaptei. Mas gosto de aplicativos que convertem falas em textos, são bastante eficazes para anotações rápidas.

​3) O que você acha sobre a publicação de e-books? 

Acho que os e-books são uma nova forma de ler e de publicar e que tendem a ganhar cada vez mais espaço. Mesmo as publicações tradicionais já estão saindo nos dois formatos. Por outro lado, os e-books têm facilitado a auto publicação, o que também é interessante para quem tem pouco para investir, porém é importante deixar claro que publicar sem uma editora não quer dizer que você possa pular outras etapas como sua formação como escritor e também ter auxílio de pelo menos dois importantes profissionais: alguém que faça a correção gramatical do texto (ninguém quer ler algo cheio de erros); e um preparador de texto, o qual ira atuar como um editor, alguém capaz de ver o que está bom e o que está ruim no livro como um todo. Por melhor que a gente seja, há muito caminho entre o texto escrito e o livro. E existem muitas outras pessoas nesse caminho além do escritor.

"Há muito caminho entre o texto escrito e o livro"

Só para dar uma ideia antes de um texto meu ser publicado ele passa por pelo menos 10 leitores betas (que vão me dando ideia se a história está legal ou chata), mais minha agente literária (que faz o papel de preparadora de texto) e o meu editor (que interfere se achar que a história precisa ser melhor trabalhada no tom e nas ideias). Depois passa por uns dois corretores de Língua Portuguesa. E acreditem, ainda encontramos um ou outro errinho de digitação ao fim de tudo.

​4) Quais escritores (as) você admira e lhe inspiram?

Meus ícones são Jane Austen, Ursula Le Guin, Margareth Atwood, Carolina Maria de Jesus, gosto também do Neil Gaiman, Stephen King e da Holly Black. Mas são tantas e tantas que seria uma lista enorme aqui.

​5) O que é ser escritora para você?

Ser escritora exige muito trabalho, mas conheço poucas coisas que deem tanta alegria quanto fazer nascer uma história.


O que você achou dessas dicas? Comente a seguir e aproveite também para conhecer mais sobre a nossa proposta pedagógica e projetos desenvolvidos.