Para falar de lixo/gestão de resíduo, precisamos abordar a Educação Ambiental e Sustentabilidade, que se constrói no Tripé: ambiental, social e econômico. Muitas vezes se pensa que o caminho dos produtos é curto, do mercado à nossa mesa, mas se parássemos para pensar, veríamos que a rota envolvida é longa em cada produto que consumimos, desde o copo de água que bebemos ao almoço que consumimos. Fabricação - manufatura - transporte - venda - consumo – descarte. Se compra, consume e descarta. Mas descarta onde? Existem alguns destinos corretos e, foi para estudar isso, que os estudantes do 3° ano do Ensino Médio aprenderam e discutiram sobre a Economia Circular, em que se reconhece a origem dos produtos de consumo e além disso, seu destino, falando de ciclos, de remanufatura, de reuso. Na Economia Circular, a comunidade reconhece o ciclo das coisas e auxilia para que esse ocorra da melhor forma possível.
A turma também foi aprendeu sobre um dos braços da Agroecologia: a Permacultura. Do inglês, Perma de 'permanent' e Culture de 'cultura', o termo cunhado por dois cientistas australianos, Bill Mollison e David Holmgren, baseia-se em três princípios éticos: o cuidado com a terra, o cuidado com as Pessoas e a partilha justa. A Permacultura é uma filosofia e uma ferramenta para a sustentabilidade, possui 12 Princípios de Design que ajudam na transição de uma vida não sustentável para sustentável. O Princípio 6 fala de “Evitar o Desperdício", que foca na utilização responsável de nossos recursos, com aproveitamento integral destes e corte dos desperdícios.
Uma das aplicações desse princípio é a compostagem urbana, em que a comunidade se dá por conta da geração e descarte de seus resíduos, reciclando-os, reutilizando-os, reduzindo custos (remanufatura e reincorporação dos resíduos sólidos secos à cadeia produtiva, encaminhando esses resíduos para sua reintegração com o seu ciclo natural com transformação dos resíduos orgânicos em composto:adubo. Quando falamos de Princípio 6, podemos falar do ciclo dos alimentos, como foi visto pelos estudantes: da semente se planta num solo preparado com substratos e adubos - a planta cresce, frutifica, dá sementes - é colhida para consumo (raízes, tubérculos, talos, folhas, frutos, sementes) - consumo (aproveita-se ao máximo as partes da planta, mesmo não convencionais, como as ramas/folhas da cenoura. O que não foi e não pôde ser consumido é levado ao lixo. Esse lixo vai para a composteira onde será decomposto e feito a compostagem que é a transformação dos resíduos orgânicos em adubo pronto será utilizado para o cultivo de novas plantas e fertilização dos canteiros, hortas, vasos - o ciclo se repete.
Assim, a turma foi capacitada em algumas aulas, para a sustentabilidade e educação ambiental a partir da Permacultura. Foram construídas composteiras no formato minhocários, utilizando recipientes de sorvete, serragem ou folhas secas, minhocas e eles poderão iniciar sua compostagem doméstica e escolar. Os jovens estão aptos a reduzir seus custos, seu descarte de resíduos e destiná-los a algo muito mais nobre e ecológico: jardins, hortas, espaços de plantio orgânico agroecológico sustentável, produzindo além do composto orgânico sólido (adubo), o líquido (chorume), que pode ser utilizado como fertilizante e inseticida, quando diluído.
Sobre os resíduos
Hoje já somam quase 8 bilhões de pessoas sobre o globo terrestre, das quais 805 milhões estão em situação de fome devido à má distribuição dos alimentos consumidos. Cerca de 1,3 bilhão de toneladas são jogadas fora anualmente em todo o mundo (ONU, 2017), o que poderia alimentar um quarto da população faminta no Planeta Terra. Além do fornecimento e distribuição de alimentos, há a problemática do descarte de resíduos tanto sólidos quanto orgânicos gerados no meio urbano, gerando um quadro que necessita de soluções: a luta entre a poluição do meio ambiente e a preservação ambiental.
Cada pessoa no mundo gera, em média, um quilo de resíduos por dia. Fazendo as contas, tem-se muito mais resíduo do que a capacidade do Planeta Terra mais alguns outros planetas. No Brasil, são geradas quase 200 mil toneladas de resíduo por dia, mas apenas, 58% destes resíduos são destinados a aterros sanitários considerados adequados, outros 42%, mais de 82 mil toneladas de resíduo são destinadas a aterros não adequados, com alto potencial de poluição ambiental (ABRELPE, 2015). Os resíduos sólidos urbanos mostraram que o destino deles afeta o meio ambiente devido aos riscos de contaminação do solo e águas subterrâneas e superficiais pela decomposição anaeróbica que ocorre nos aterros, principalmente pela liberação de gás metano (CH4) – aproximadamente 21 vezes mais efetivo no aquecimento global que o CO2 – , e dióxido de carbono (CO2) que agravam o efeito estufa.
No Rio Grande do Sul, 8.738 toneladas de resíduos são geradas por dia pela população (ABRELPE, 2015), em Porto Alegre, são geradas 1.500 toneladas de resíduos sólidos/dia, dos quais 57% são orgânicos (REIS, 2005). Todo esse resíduo é encaminhado pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) para o aterro sanitário de Minas do Leão a 130Km da capital. Esse contexto resulta em ineficiência nos gastos públicos, desperdício de matéria prima e impacto ambiental negativo para a região e isto poderia ser evitado pela destinação correta dos resíduos que vão para o aterro, utilizando de conceitos sustentáveis, pode-se reciclar os resíduos secos próprios para este fim e compostar os resíduos orgânicos transformando-os em adubo. Os 57% de resíduos orgânicos de Porto Alegre descartados podem ser compostados, aumentando a vida útil dos aterros sanitários adequados a sua finalidade, além de que ao destinar-se para a compostagem, os resíduos orgânicos estarão fechando seu ciclo natural, voltando a terra que lhe deu seus nutrientes.
Texto com contribuição da bióloga Kassiane Helmicki Pedro.