Por
Ralph Schibelbein, educador de história dos Anos Finais e Ensino Médio.
A
história caracteriza-se por ser uma narrativa sobre algum fato que tenha
ocorrido. Desta forma, cabe salientar a diferença entre passado e
memória. O passado segue sendo um só, porém ele pode ser interpretado de
diferentes maneiras. Já a memória é uma arena de embates que pode ser
constantemente (re) significada. A guerra civil travada entre o império
brasileiro e o estado do Rio Grande do Sul que durou de 1835 a 1845 e colocou
em jogo uma disputa predominantemente econômica foi um evento marcante do nosso
país.
Essa revolta dos Farrapos
ocorreu, principalmente, por causa da insatisfação dos estancieiros gaúchos com
a política fiscal do governo nacional sobre o charque produzido aqui. Desta
forma, a carne gaúcha recebia uma pesada taxa de impostos do governo, enquanto
o que era produzido pelos uruguaios e argentinos tinha uma taxação bem menor. Somado
ao descontentamento com os altos impostos e a concorrência com produtos
externos, os revoltosos da elite estavam em desacordo com a centralização
política do governo do Brasil, o que gerava pouca autonomia da província
gaúcha.
A partir das ideias
republicanas, parte do estado buscou formar a república Rio-grandense e sob
lideranças de Bento Gonçalves, David Canabarro e Giuseppe Garibaldi, levaram a
revolta contra o império também para Santa Catarina (formando lá a curta
republica Juliana). O fim do conflito veio dez anos após o 20 de setembro de
1835, através do Tratado de Poncho Verde, em que os farrapos terminaram a
revolta e aceitaram os termos propostos pelo governo brasileiro.
A forma de contar esse
episódio foi sendo alterada ao longo dos séculos. Da revolução gaúcha pela
república Riograndense até o conflito por interesse de grandes estancieiros,
que traz o massacre dos escravos em Porongos, podemos ver o mesmo processo por diferentes
ângulos. Cada época, motivada por distintos interesses, propôs variadas
abordagens. Porém o que nos parece mais importante é celebrar o cuidado com o
nosso pago, nossa cultura e o nosso povo. Um olhar que enxergue a contribuição
dos indígenas, dos imigrantes europeus, dos africanos escravizados e de todos e
todas que, ao passar dos anos, seguem construindo a nossa querência amada.