Representatividade, orgulho e respeito às diferenças. O que essas questões têm em comum? Todas estão repletas de significados que estão diretamente ligados à formação étnica, social e cultural de nosso país. É a partir da compreensão de preceitos como estes e da necessidade de tornar presente a reflexão acerca destas temáticas que, desde 2011, o dia 20 de novembro é conhecido como Dia da Consciência Negra, instituído pela Lei nº 12.519. A data faz referência à morte de Zumbi, antigo líder do Quilombo dos Palmares e símbolo de luta e resistência dos afrodescendentes escravizados. Por essa razão, de 16 a 20 de novembro foi realizada a Semana da Consciência Negra no Colégio Marista Rosário, a fim de compartilhar resultados de trabalhos desenvolvidos com os estudantes e que tiveram a cultura afro-brasileira como objeto de estudo, bem como estimular sua reflexão sobre a história do Brasil e seus efeitos na formação da sociedade que conhecem.
Para além de atender o que está disposto em lei, a inclusão de conteúdos e a produção de atividades com temáticas afro-brasileiras no currículo escolar são, portanto, importantes para que se compreenda o processo de formação da identidade e da cultura brasileiras, para as quais a contribuição dos indivíduos de descendência africana vai muito além de suas lutas e mazelas, contemplando, também e fundamentalmente, suas produções artísticas e literárias. Mais do que isso, é somente a partir do estudo de diferentes matrizes e perspectivas que uma visão unilateral e/ou hegemônica pode ser superada. Assim, é dever da escola, visando à formação integral, oferecer repertório intelectual a crianças e adolescentes para que, no futuro, se tornem cidadãos críticos, empáticos e que respeitem a todos sem distinção, mas sem ignorar as desigualdades que se apresentam ao longo de nossa história.
Difundindo a cultura afro-brasileira
Neste contexto, educadores do 7º ano do Ensino Fundamental identificaram a importância de desenvolver uma sequência didática que valorizasse e reconhecesse as produções de raízes africanas em nossa cultura. A partir disso, sob o tema Afro-brasilidade: a construção da cultura brasileira, elaboraram as atividades de diferentes disciplinas, culminando em uma exposição em que foram apresentadas máscaras africanas e totens produzidos na disciplina de Arte e inspirados na exposição Templo de Oxalá, de Rubem Valentim. Também foram expostos textos sobre personalidades negras de nosso país, como a apresentadora Glória Maria, a cantora Elza Soares e o jogador de futebol Pelé, entre outros personagens, como tarefa de Língua Inglesa. Da mesma forma, os estudantes escreveram um texto em formato de carta como se fossem feitos para ícones da literatura brasileira, além de elaborarem perfis de jornalistas negros(as), contemplando as disciplinadas de Língua Portuguesa e Produção Textual, respectivamente, bem como exercitaram a coordenação motora e aprenderam sobre a história afro-brasileira por meio do ensino da capoeira, como parte das aulas de Educação Física.
A educadora e assessora da área de Linguagens dos Anos Finais, Graziela Acosta, atesta a relevância de iniciativas dessa natureza. “Consideramos importante evidenciar em nossas práticas pedagógicas a diversidade, como nos convidam as Matrizes Curriculares da Educação Básica do Brasil Marista da área das Linguagens. Uma visão global desses temas pode conduzir o estudante a refletir sobre a necessidade do respeito ao outro, na sua diferença e igualdade, portanto, na inclusão de todos. Dessa forma, faz-se necessário para o adolescente reconhecer a cultura brasileira como plural", explica. A professora Fernanda dos Santos também valoriza a importância de reconhecer o legado da população negra ao longo da história, cujos direitos e oportunidades só foram garantidos por meio de muita luta e resistência.
Esta não é uma percepção apenas dos educadores, mas também dos estudantes, como Dandara R., do Ensino Médio, que considera inadequado que, ao trabalhar a cultura negra, aborde-se majoritariamente suas lutas, ainda que reforce a importância de valorizar, sim, a resistência do povo negro. Para ela, “o imaginário popular ainda pensa no negro apenas como o enclausurado da escravidão, o que é um pensamento estereotipado e que limita o nosso potencial. É imprescindível trabalharmos o legado de nossos ancestrais como reis e rainhas, e evidenciar as glórias e ascensão do afro-brasileiro na sociedade. Além disso, é importante ampliarmos o repertório de artistas e escritores negros recomendados", afirma.
Representatividade
Para além do conhecimento das raízes do nosso povo e da construção de nossa identidade enquanto nação, a valorização da origem e das produções da população é muito importante pelo seu caráter representativo. É da natureza humana a necessidade da sensação de pertença e acolhimento, sobretudo durante o período de formação escolar, em que os estudantes ainda estão construindo suas personalidades e descobrindo seus lugares no mundo. Assim, é importante que esses jovens percebam que as imagens que os cercam lhe são familiares e dialogam com eles, pois só assim se sentirão por elas representados. Dessa forma, quanto mais diversos forem os espaços que ocupam, as atividades desenvolvidas e suas figuras de referência, maiores serão as chances de se sentirem contemplados e representados.
É fundamental, portanto, dar voz aos estudantes. Neste contexto, Dandara considera que representatividade significa, além de base para sua formação, garantia de respeito a essa identidade. “Me sentir representada é saber que tenho espaço e presença em qualquer lugar que eu esteja. É ter referências positivas nas mais diversas áreas, como política, ciências, artes, educação e esportes. É saber que as pessoas reconhecem a minha voz é irão ouvi-la, da mesma maneira que eu poderei encontrar outras vozes com as quais me identifico", declara.