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A aprendizagem em tempos de pandemia

26/08/2020
Educação
Especialistas abordam o processo de ensino de crianças e adolescentes e como fortalecemos novas habilidades nesse período atípico

​O constante e acelerado processo de transformação faz parte do mundo em que vivemos. Essa constatação resulta na necessidade de ressignificar diferentes aspectos de nossas vidas. Em um momento tumultuado, nós, maristas, com mais de dois séculos de atuação, esforçamo-nos para reaprender e, igualmente, entendemos que esse é um desafio para todas as famílias.

Com a convicção de que a educação é um processo coletivo, pedimos que os familiares de nossos estudantes respondessem a uma pergunta-chave: quais são os principais desafios na educação de seus filhos? A partir dessa participação, surgiu o projeto Em Família, que convida especialistas de diferentes empreendimentos da Rede Marista para debater e refletir sobre as principais dúvidas que surgiram. O primeiro tema abordado é Aprendizagem e como [re]aprendemos durante a pandemia.

Assista ao vídeo:​

 


A maneira pela qual a aprendizagem acontece envolve nossos sentidos, nossa capacidade de pensamento, nossas emoções e nossos repertórios internos. Perante a um novo objeto de conhecimento, somos impulsionados a atribuir sentido e a construir uma interpretação que nos possibilite o entendimento desse conhecimento. Após essa primeira dinâmica etapa, o conhecimento é internalizado, tornando-o próprio. 

De acordo com o pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) Augusto Buchweitz, é fundamental manter ritmo de estudos mesmo durante um período atípico como o que estamos vivendo: “a aprendizagem deve ser a mais contínua possível. A gente precisa tentar manter o nosso cérebro em movimento”, define. Rochele Fonseca, pesquisadora em Neuropsicologia na PUCRS, concorda. Ela explica que o processo de aprendizagem demanda mais autonomia dos estudantes nesse momento. “Esse automonitoramento é uma função cognitiva do lobo frontal do cérebro, ou seja, o conjunto de habilidades mais complexas e cujo desenvolvimento pode ser finalizado os até 30 anos, dependendo da pessoa”, contextualiza. Para contribuir com esse desenvolvimento, os pais precisam identificar até onde os filhos conseguem ir sozinhos, e permitir que eles se tornem mais experientes e formem esse hábito, de acordo com a especialista.

Organização e suporte familiar

Para facilitar esse desenvolvimento, é essencial que os pais fortaleçam a autonomia dos filhos, fornecendo as ferramentas para que os estudantes alcancem suas próprias respostas, conforme conta Cristiann Matos, Coordenador Pedagógico do Colégio Marista Roque. “Um dos papéis principais que a gente pode perceber é fornecer um ambiente adequado, a motivação pra esses estudos, através de auxílio na construção de hábitos de estudo saudáveis, motivação e auxílio de ferramentas pra superar esses obstáculos”, declara.

Uma parte importante do processo é a construção de uma rotina de estudos. "Faz muito sentido os pais organizarem um cronograma de tarefas”, comenta Caroline Garziera, Coordenadora Pedagógica do Colégio Marista Rosário. “Mas é importante ter em mente que essa rotina não será idêntica àquela seguida no colégio, pois no ambiente escolar existe o contexto da interação social, o que torna os tempos diferentes”. Ao mesmo tempo que essas tarefas podem ser organizadas pelos pais, é essencial que eles tenham a sensibilidade de não preencherem toda a tarde com atividades cognitivas e dirigidas, justamente pela ausência da relação com seus pares.

[re]Aprendizagem durante um período atípico

O momento em que vivemos tem motivado educadores, famílias e estudantes a criarem, juntos, maneiras inovadoras de construir conhecimentos. Trouxemos dois exemplos que ilustram essa aprendizagem. A professora dos anos iniciais Caroline Pereira, do 1º ano do Ensino Fundamental, conta como está sendo o processo de alfabetização em tempos de isolamento social, que além de ser um grande desafio, requer presença e muito estímulo. “Ao longo dos últimos meses nos vimos, enquanto professoras alfabetizadoras, no dever de reinventar a escola e as formas de ensinar para alcançar, mesmo que à distância, as crianças e garantir o estímulo necessário para o processo inicial da alfabetização”, analisa. 

Ela ainda conta que a proposta foi se construindo no dia a dia, buscando sempre ponderar as diferentes realidades que poderiam se apresentar, mantendo um diálogo com as famílias, que atualmente, mais do que nunca, auxiliam na condução  das atividades dentro de suas casas. “Nossa rotina de estudos visa abranger diversas experiências e descobertas a respeito da alfabetização, bem como das diferentes áreas do conhecimento. Para esta nova dinâmica escolar nos preocupamos em proporcionar atividades leves, lúdicas e significativas. Saímos do material usual de sala de aula e nos aventuramos no mundo das tecnologias. Atualmente PowerPoint, vídeos, links, jogos online, aplicativos e animações nos ajudam a complementar o trabalho desenvolvido nos encontros virtuais”, comenta. 

O professor de história dos anos finais Ângelo Zarnot, conta que este é um período de adaptação na educação, e que os professores buscam os melhores resultados para os estudantes. “Precisamos manter o planejamento de conteúdos mas também precisamos estar atentos a outros detalhes. Nossa forma de dar aula mudou, a relação docente com os alunos necessita percorrer outros caminhos. Nós professores, mais do que nunca, precisamos incentivar, cativar e mostrar esperança no futuro próximo”, salienta. 

Com as tecnologias aliadas como ferramenta de ensino, o professor inovou para apresentar o conteúdo de história para os estudantes. Para tornar as aulas mais dinâmicas e atrativas, ele buscou aprender sobre ferramentas de edição e criação de vídeos, convidando colegas para participar de aulas em conjunto e criou um canal em uma plataforma de vídeos para estar próximo dos estudantes. "Nossos estudantes estão com um mundo tecnológico em suas mãos que os permitem navegar pelo mundo do conhecimento, precisamos usar isso a nosso favor. Não podemos esquecer que a finalidade finalidade de todas essas inovações é o estudante e por isso, sempre que possível, converso com eles para ouvir sugestões de como tornar a aula mais dinâmica e produtiva. Tem sido uma experiência de aprendizagem desafiadora, porém incrível”. 


*Os conteúdos publicados no Projeto Em Família estão em conformidade com as diretrizes dos Colégios da Rede Marista. As opiniões dos especialistas convidados, no âmbito externo, não representam, necessariamente, a concordância e/ou posicionamento da instituição.​